quarta-feira, 30 de junho de 2010

A Música criando a mente

    Como o próprio nome sugere, a musicoterapia é uma forma de utilização da música para fins terapêuticos. Através do envolvimento com essa arte, descobriu-se que as sensibilidades físicas, mentais, sociais e emocionais eram constantemente estimuladas. Assim, a musicoterapia passou a ser utilizada em pacientes mentais – principalmente crianças – para responderem de forma melhor aos tratamentos das doenças. Segundo especialistas, todas as pessoas têm uma identidade sonora, um ritmo pulsando em seu interior, e cabe à musicoterapia descobri-la e exercitá-la para melhores resultados médicos.
    Desde os primeiros passos, proporcionados por Freud, a psicanálise procurou interpretar o inconsciente humano e desvendar a mente dos insanos. Através dos avanços da indústria farmacêutica, as fórmulas químicas dos medicamentos surgiram como controle para os mais diversos diagnósticos de doenças mentais, como síndromes depressivas e mecânicas. Porém, nem sempre é fácil conduzir os tratamentos psiquiátricos. Há muita resistência às ordens médicas, o que leva ao uso da força física e causa numa série de transtornos ao paciente e sua família.
    Ao reconhecer a dificuldade de deficientes mentais em aceitar a doença, algumas instituições passaram a utilizar métodos terapêuticos alternativos para auxiliar ao tratamento. O Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro (CPRJ), que fica no centro do Rio de Janeiro, enxergou, há doze anos, a música como uma forma de comunicação a fim de estabelecer a igualdade sociocultural entre os doentes e os chamados “normais”.
    As  seções de musicoterapia foram iniciadas em 1998, com a entrada do psicólogo e musicoterapeuta Sidnei Dantas para a coordenação do CPRJ, que foi transferido no mesmo ano para o prédio atual. Em 2001 foi criado o projeto “convivendo com a música”, envolvendo mais pessoas do local que pretendiam se expressar livremente através da arte. Nesse período foram coletivamente compostas as duas primeiras músicas do grupo, apresentadas no dia 7 de abril – dia mundial da saúde – no evento ‘Cuidar Sim, Excluir Não’, na Lagoa Rodrigo de Freitas. A partir daí, o grupo recebeu inúmeros convites de shows e logo assumiram o nome de “Harmonia Enlouquece”. Segundo o diretor do centro psiquiátrico Francisco Sayão - em nove anos de atividade, 45 pacientes já fizeram parte da banda, que hoje é formada por doze integrantes. Uma das revelações do grupo é o cantor e compositor Hamilton Assunção, que encanta a todos ainda nos primeiros acordes das suas músicas, como “sufoco da vida”, que foi tema de um personagem que tinha problemas mentais, interpretado por Bruno Gagliasso na novela “Caminho das índias”, da TV Globo.
    “Na prática, percebemos que o índice de internação das pessoas que participaram do grupo caiu bastante”, diz Francisco Sayão. A partir do envolvimento com a arte, muitos pacientes do Centro Psiquiátrico passaram a trocar experiênicas decorrentes da doença. É sem dúvidas a grande prova de que a arte não se limita a transmitir cultura, mas também encoraja doentes psiquiátricos a conviverem com doenças - incuráveis - e a experimentarem um direito concedido a todos: a liberdade do bem-estar.